Resenha: RÜSEN, Jörn. Razão Histórica.

Resenha: RÜSEN, Jörn. Razão Histórica. Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora UnB, 2001, pp. 11-51.

Doutor em Filosofia e História pela Universidade de Colônia, Jörn Rüsen, autor do livro “Razão Histórica – Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica” desenvolve ao longo do texto o que são os fundamentos da ciência da história e logo após propõe uma discussão sobre os fundamentos que o pensamento histórico-científico se baseia.
Os fundamentos da ciência da história baseiam-se na questão da razão na história. Para Jörn Rüsen, essa base é inevitável, pois não há pensamento sobre a história que não esteja motivado pela carência de sentido. Porém essa razão não pode ser tratada somente como uma propriedade qualquer da história. Jorn Rusen deixa essa questão bem clara na seguinte passagem: “A perspectiva não será, pois, a de uma propriedade qualquer da história que se chamaria ‘razão’, mas a de saber como se constitui o pensamento sobre a história que se apresenta como ciência.” (p. 12)
A questão da razão é própria da ciência. E como a ciência da história é um ramo que trata a história de forma racional, então a questão da razão não pode ser ignorada quando originada da carência de orientação da práxis humana. Sendo assim, a ciência da história, como Jörn Rüsen afirma, está entre “a cruz e a caldeirinha” pois a ciência não é o melhor ramo para responder questões de carência de sentido porém não pode ser deixada de lado pois move outras questões importantes.
A teoria da história, para Rüsen, consiste na análise da pretensão de racionalidade da ciência da história. No sentindo clássico de teoria, pode-se dizer que a teoria da história é uma “teoria” da ciência da história que significa a análise de um determinado conteúdo buscando suas determinações racionais. Essa teoria da história diante de determinadas estruturações do pensamento histórico, segundo Rüsen, se põe as condições da pesquisa histórica sem que ela seja diretamente objeto da pesquisa histórica. Dessa forma, a teoria da história e a ciência da história mantêm suas visões e suas diferentes utilizações sobre a razão.
Mesmo com divergências e pontos comuns, a relação de uma teoria da história com a ciência da história é de esclarecimento. Rüsen mostra essa questão no trecho:
[...] Não é que toda luz na ciência da história provenha da teoria da história, mas as coisas ficam mais claras quando o pensamento histórico reconhece sua aptidão à racionalidade também na operação de explicitar-se por seus princípios. [...] (p. 22)

A autorreflexão é um elemento crucial no dia-a-dia da ciência. O processo do pensar história tornar-se-ia frágil caso o sujeito do conhecimento não pensasse sobre si mesmo. Por esse motivo o cotidiano do historiador é base natural da teoria da história. E essa teoria é uma elaboração dessa constante reflexão do historiador sobre si mesmo. A teoria vai além do trabalho do historiador de descrever e demonstrar que a reflexão de seu pensamento histórico emerge do trabalho prático do próprio historiador, segundo Rüsen, a teoria é necessária sempre que se tratar de fundamentar, justificar ou modificar sempre que se tratar do sentido do trabalho histórico. Sendo assim, a teoria da história é a reflexão a qual o pensamento histórico se constitui como especialidade científica.
Os que se dedicam à pesquisa histórica e à historiografia têm de ser especialistas, têm que saber manusear a especificidade científica do pensamento histórico sem que pense nela, essa especificidade tem de ser automática. Por esse motivo existe a competência científica especializada pois efetiva-se sempre em campos particulares da pesquisa e da historiografia, porém essa habilidade não é adquirida quando se pesquisa somente assuntos específicos, pelo contrário, antes é necessário um estudo sobre o conjunto, assim que se é formada uma noção do todo histórico, pode-se seguir com a especialização. Para Rüsen, a visão do conjunto é necessária ao trabalho especializado competente em cada tema. E a teoria é o plano da ciência da história em que essa visão é adquirida. A teoria cuida para que no processo da ciência especializada, como constituição do pensamento histórico, não seja perdido de vista, nos múltiplos processos do conhecimento histórico, em benefício dos processos particulares de conhecimento.
Mas o que a teoria da história entende como “a totalidade” da ciência da história? Jörn Rüsen questiona-se e logo após afirma:
[...] Nas suas formulações anteriores, a teoria da história buscou efetivamente apresentar uma visão panorâmica do campo inteiro do pensamento histórico, com o caráter de uma enciclopédia. À maneira de um manual, ela difundiu os resultados obtidos até então pela pesquisa histórica e fixou, ao mesmo tempo, os critérios determinantes dessa pesquisa, as regras da historiografia e, de forma esquemática, a história do pensamento histórico e de sua historiografia. Com a aceleração do progresso do conhecimento [...] esse tipo de apresentação enciclopédica tornou-se problemático. [...] a multiplicidade dos conhecimentos obtidos pela ciência da história e a variedade dos recursos metódicos, [...], os fatores gerais e fundamentais do pensamento histórico que formam a constituição da ciência da história, então seu tratamento tem de ser completamente diverso do enciclopédico. [...] (p. 28)

A teoria da história tem de se preocupar com os fatores que determinam o conhecimento histórico que delimitam o campo inteiro da pesquisa histórica e da historiografia, segundo Rüsen, para isso cria-se a Matriz Disciplinar, pois a teoria da história nada tem de estático, ela é dinâmica e seus objetos são os fundamentos e os princípios da ciência da história.
A teoria da história deve-se ocupar do exame da matriz disciplinar. Para Rüsen, a matriz disciplinar é um conjunto sistêmico entre a passagem da vida prática para a ciência histórica e vice-versa. Sendo assim, a matriz disciplinar é circular e é uma espécie de mutualismo obrigatório. A matriz disciplinar é composta de cinco elementos: Interesses (O que lança alguém a tentar compreender a história. A carência de sentido que será preenchida pela história.), Ideias (Formas de abordar o material empírico do passado que precede o contato com tal material. Segundo Rüsen, ideias são os referenciais supremos que emprestam significados à ação, elas servem à transformação de carências motivadoras em interesses em agir.), Métodos (Para Rüsen, métodos são regulamentadores do pensamento histórico, que lhe possibilitam produzir fundamentações específicas e lhe permitem assumir o caráter de pesquisa, eles por certo influenciam o modo pelo qual as perspectivas são concebidas. Ou seja, os métodos são o caminho para a construção do conhecimento.), Formas (Diferentemente dos métodos, as formas desembocam os processos de pesquisa do conhecimento histórico regulados metodicamente, segundo Rüsen.) e Funções (Nas palavras de Rüsen:
[...] As funções têm de ser consideradas como um fator próprio de seus fundamentos, na medida em que se quer saber por que é racional fazer história como ciência e em que consiste essa ‘racionalidade’. [...] Não se pode caracterizar suficientemente o que é a história, em seus fundamentos, como ciência, se não se considerar a especificidade do pensamento histórico também na função de orientação, da qual afinal se originou. [...] )  (p. 34)

Dessa forma, a matriz disciplinar é dependente da vida prática do historiador que se relaciona com a ciência da história e ela permite reconhecer que a história como ciência ajuda para que os homens em seus tempos realizem mudanças em suas vidas práticas.
Em sua obra, Jörn Rüsen, apresenta as relações entre teoria da história e ciência da história, apresenta também as formas em que elas aparecem e suas relações e como elas influenciam no trabalho do historiador e no processo de escrita da história e pesquisa histórica. Com base na visão do autor, pode-se concluir que a vida prática e a ciência da história são de grande importância uma para outra e para o estudo da cientificidade da história. De forma objetiva e esclarecedora, Rüsen aponta suas conclusões a respeito e deixa um vão para que os leitores tirem suas próprias conclusões.



Referências Bibliográficas:

RÜSEN, Jörn. Razão Histórica. Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora UnB, 2001, pp. 11-51.

RÜSEN, Jörn. Currículo Lattes. Plataforma Lattes. Disponível em:
< http://lattes.cnpq.br/3114512035546178>. Acesso em: 21 Setembro 2011, 15:35:40

0 comentários:

Postar um comentário