Resenha: GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma História Nacional.

Resenha: GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma História Nacional. Rio de Janeiro, Estudos Históricos 1(1) 1988, P.5-27.


Graduado pela Universidade Federal Fluminense e Doutor em História pela Universidade Livre de Berlim, Manoel Luís Lima Salgado Guimarães, autor de “Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma História Nacional” propõe em seu texto uma discussão sobre a formação da historiografia nacional e o próprio conceito de nação brasileira.
No Brasil, no ano de 1838 é fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e é a mais antiga entidade de pesquisa historiográfica, com o intuito de construir, segundo Manoel Luís Lima Salgado, um delineamento de um perfil para a “Nação brasileira”, capaz de lhe garantir uma identidade própria no conjunto mais amplo das “nações”.
A construção do significado da historiografia nacional fundamenta-se em fortes ideais iluministas preponderantes do século XIX. O autor deixa isso bem claro na passagem:
[...] A fisionomia esboçada para a Nação brasileira e que a historiografia do IHGB cuidará de reforçar visa a produzir uma homogeneização da visão de Brasil no interior dás elites brasileiras. É de novo uma certa postura iluminista – o esclarecimento, em primeiro lugar, daqueles que ocupam o topo da pirâmide social, que por sua vez encarregar-se-ão do esclarecimento do resto da sociedade – que preside o pensar a questão da Nação no espaço brasileiro. [...] (p. 6)

Como relata Manoel Salgado, a presença da tradição historiográfica iluminista na concepção de história do IHGB, tanto pelo tratamento linear dos fatos, quanto por sua instrumentalização como “mestra da vida”, é a tradição particular do iluminismo português, marcadamente católico e conservador, que deixará suas marcas na geração fundadora do Instituto de História.
A ideia de nação que o IHGB vinha formulando não tinha bases na oposição à antiga metrópole portuguesa. A nova nação brasileira se via como continuadora de uma tarefa civilizadora que fora iniciada pela colonização portuguesa. Compunham uma discussão historiográfica relativa ao problema nacional a Nação, o Estado e a Coroa.
O fato do Estado e a Nação serem pensados em esferas iguais se difere do modelo europeu onde Nação e Estado não fazem parte da mesma esfera. Já um ponto mais do que apenas comum e sim relação de total influência, guardada as especificidades históricas de cada uma das instituições, é o fato de que o IHGB tinha o Institut Historique de Paris, como principal fornecedor dos parâmetros de trabalho historiográfico.
Em 15 de dezembro de 1849, a inauguração de novas instalações, no Paço da Cidade, simbolizam, de acordo com Manoel Salgado, um novo começo para a vida da entidade e marcam nitidamente um aprofundamento de suas relações com o Estado Imperial. A partir dessa data, o imperador, passa a ter uma presença assídua e participante – o que antes se restringia a reuniões anuais comemorativas –, contribuindo para a construção da imagem de um monarca esclarecido e amigo das letras.
Dessa forma, o Instituto passa a dar prioridade à produção de trabalhos inéditos nos campos da história, da geografia e da etnologia. A mudança se materializa realmente com os novos estatutos promulgados em 1851 (Revista do IHGB. Rio de Janeiro, 12(13): 551 Out./Dez. 1849.) visavam à consolidação e profissionalização do IHGB. Presos à ideia obtida do iluminismo, onde a história é um processo linear marcado pelo progresso, os intelectuais do IHGB tratavam o caso brasileiro como parte dessa linha evolutiva.
Nesse campo de raciocínio, decidiram obter conhecimentos arqueológicos, linguísticos e etnográficos para poder se ter acesso à cultura dos indígenas e queriam, de certa forma, provar a inferioridade do povo indígena à “civilização branca”. Acaba-se por ser concluído que o indígena poderia ser uma possível solução para a questão da mão-de-obra no período após a abolição do tráfico escravo, e o negro continua sendo considerado responsável pelo atraso do país.
Sucessor de uma ideia antiga de história, o Instituto de História lança-se à tarefa de escrever a gênese da Nação brasileira, preocupação que na realidade cabe à historiografia moderna europeia do século XIX. Segue, então, o IHGB a escrever e pensar uma história de aspectos antigos e modernos. O IHGB na sua tarefa de contribuir para a construção da Nação brasileira, nas palavras de Manoel Luís Lima, levanta a questão da história como experiência e fonte de pesquisas, onde a escrita da história poderia servir de exemplo para que os políticos se baseassem e então, melhor desempenhassem suas funções. Essa ideia está claramente explicita no momento em que o escritor afirma:
[...] Da história, enquanto palco de experiências passadas, poderiam ser filtrados exemplos e modelos para o presente e o futuro [...]. A história é percebida portanto, enquanto marcha linear e progressiva que articula o futuro, presente e passado; [...] (p. 15)

O IHGB incentivará excursões e viagens pelo interior do Brasil, na esperança de adquirir material para ajudar na escrita da história nacional e caso esse material não fosse adquirido, a viagem não seria em vão, pois a possível descoberta de novos terrenos serviria ao Estado. Havia uma importância tripla nessas viagens: a obtenção de materiais para a escrita da história; economicamente, a obtenção de novas terras para cultivo agrícola e descobertas de riquezas minerais; e politicamente, a “interiorização da civilização” e o reconhecimento de fronteiras. Tais viagens, segundo o autor, tiveram apoio total do IHGB e do próprio Estado, que as financiava.
Em sua obra, Manoel Luís Lima Salgado, apresenta os principais motivos para a criação do IHGB de uma forma bastante crítica e utiliza um vocabulário de fácil compreensão e absorção por parte do leitor. Com base na visão do autor, pode-se concluir que o processo de criação, escrita e pensamento da história nacional deu-se de forma bastante diferenciada do modelo europeu - apesar da grande influência -. O grande ideal radical iluminista, assim como a participação do Estado, corpo de intelectuais do IHGB não serem de fato historiadores e outros fatores, deu outro viés ao objetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Objetivos estes de caráter político, econômico e social que se deram de forma centralizada e ao que se pode ver, foram alcançados.

















Bibliografia:

GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma História Nacional. Rio de Janeiro, Estudos Históricos 1(1) 1988, P.5-27. 

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